É como se um juiz estivesse sentado para um julgamento e seu irmão aparecesse para ser sentenciado. O juiz diz a ele: “Tu és meu irmão e eu sou teu juiz e, embora eu te ame sinceramente, não posso e nem é certo para mim contrariar a justiça. Em tua consciência verás o que é justo com respeito ao que mereces. É necessário sentenciar-te adequadamente. Se fosse possível ir contra a justiça, eu poderia de bom grado tomar tua sentença para mim”. Sou como este juiz. Essa pessoa é meu irmão devido à minha natureza humana. Quando ele vem para ser julgado, sua consciência lhe informa sobre sua culpa e ele compreende qual deve ser sua sentença. Já que sou justo, eu respondo à alma - falando figurativamente, e digo: “Tu enxergas tudo o que é justo para ti em tua consciência. Diga-me o que mereces”. A alma me responde então: “Minha consciência me informa sobre minha sentença. É a punição que me é devida, pois não te obedeci”. Eu respondo: “Eu, teu juiz, assumi toda a tua punição e te fiz conhecido o perigo que corrias, assim como a maneira de escapares da punição. Foi por simples justiça que não pudeste entrar nos céus antes de reparar tua culpa. Eu assumi tua reparação, porque foste incapaz de suportar isso sozinho.
Através dos profetas mostrei-te o que aconteceria comigo e não omiti um único detalhe do que esses profetas revelaram. Mostrei-te todo o amor que pude para que voltasses a mim. Entretanto, já que te afastaste de mim, mereces ser sentenciado, porque desprezaste a misericórdia. Entretanto, EU sou ainda tão misericordioso que, se fosse possível a mim, morrer novamente, por tua causa, suportaria o mesmo tormento que uma vez suportei na cruz ao invés de vê-lo sentenciado a tal sentença. A justiça, porém, diz que para mim é impossível morrer novamente, mesmo que a misericórdia diga que quero morrer por ti, se isso fosse possível. É assim que sou misericordioso e amoroso mesmo pelos condenados. Eu amei a humanidade desde o começo, mesmo quando pareci irado, mas ninguém se preocupou ou prestou qualquer atenção ao meu amor.
Por ser justo e misericordioso, advirto os chamados cavaleiros de que eles devem procurar minha misericórdia, para que minha justiça não os encontre. Minha justiça é tão imóvel quanto uma montanha, queima como fogo, é tão assustadora quanto um trovão e tão repentina quanto um arco ajustado com uma flecha. Minha advertência é tripla. Primeiro, advirto-os como um pai faz com seus filhos, para que eles se voltem para mim, porque sou seu Pai e Criador. Que eles retornem, e eu lhes darei o patrimônio devido a eles por direito. Que retornem, porque, embora eu tenha sido desprezado, ainda os receberei com alegria e irei ao seu encontro com amor. Segundo, peço a eles como um irmão, que recordem minhas feridas e minhas ações. Que eles retornem, e os receberei como um irmão. Terceiro, como seu Senhor, eu peço-lhes que retornem ao Senhor a quem prometeram sua fé, a quem devem sua lealdade e a quem se comprometeram por juramento.
Por quê, ó cavaleiros, vos afastastes de mim, vosso pai, que vos criou com amor? Pensai em mim, vosso irmão, que se tornou um de vós pelo vosso bem. Voltai-vos novamente para mim, o vosso bom Senhor. É altamente desonesto jurar vossa fé e vossa lealdade a outro senhor. Vós jurastes que defenderíeis minha Igreja e ajudaríeis os necessitados. Vede agora como jurastes lealdade a meu inimigo, jogastes fora meu estandarte e levantastes o do inimigo!
Por que, ó cavaleiros, não retornais a mim com verdadeira humildade, já que desertastes de mim por causa do orgulho? Se qualquer coisa parece difícil de suportar por mim, considerai o que fiz por vós! Por vós fui à cruz com meus pés sangrando; minhas mãos e pés foram pregados por vós; não poupei nenhum um só membro por vós. E ainda ignorais tudo isto, afastando-vos de mim. Voltai e vos darei três formas de ajuda. Primeiro, fortaleza, para que sejais capazes de resistir a vossos inimigos físicos e espirituais. Segundo, uma brava generosidade, tal que não possais temer nada a não ser Eu e possais considerar uma alegria o vosso empenho por mim. Terceiro, Eu vos darei sabedoria para fazer-vos entender a verdadeira fé e a vontade de Deus. Assim, voltai e assumi vossas posições como homens! Pois eu, que estou vos dando esse aviso, sou o mesmo a quem servem os anjos, aquele que libertou vossos antepassados que foram obedientes, mas condenou os desobedientes e humilhou os orgulhosos. Fui o primeiro na guerra, o primeiro a sofrer. Segui-me, então, para que não derretais como a cera no fogo. Por que estais quebrando vossa promessa? Por que desprezais vosso juramento? Tenho menor valor ou sou menos merecedor do que algum amigo vosso mundano, a quem, quando fazeis juramento, o mantendes? Entretanto, a mim, o doador da vida e da honra, o preservador da saúde, vós não cumpris o que prometestes.
Por esta razão, bons cavaleiros, cumpri vossa promessa e, se fordes muito fracos para colocar isso em ação, pelo menos tenhais a vontade de fazê-lo! Sinto pena da escravidão que o demônio vos impôs e assim, aceitarei vossa intenção como uma ação. Se voltardes para mim com amor, então colocai em execução a fé da minha Igreja, e eu sairei para encontra-vos como um bom pai junto com todo o meu exército. Eu vos darei cinco coisas boas como recompensa. Primeiro, o louvor eterno sempre soará em vossos ouvidos. Segundo, a face e a glória de Deus sempre estarão diante de vossos olhos. Terceiro, o louvor de Deus nunca deixará vossos lábios. Quarto, vós tereis tudo o que vossas almas desejarem, e não desejareis nada além do que já tendes. Quinto, nunca vos separareis de vosso Deus, vossa alegria será infinita e vivereis vossas vidas com alegria sem fim.
Esta será vossa recompensa, meus cavaleiros, se vós defenderdes minha fé e vos esforçardes mais pela minha honra do que pela vossa. Se tiverdes algum senso, lembrai-vos que tenho sido paciente convosco e que me tendes insultado de tal forma que vós sozinhos, nunca toleraríeis. Entretanto, embora eu possa fazer tudo devido à minha onipotência, e embora minha justiça clame para que me vingue de vós, ainda minha misericórdia, que está em minha sabedoria e bondade,vos poupa. Dessa forma, peçai por misericórdia! Em meu amor, eu concedo o que uma pessoa me pede com humildade”.
Palavras poderosas de Cristo à esposa sobre os cavaleiros da atualidade; sobre a maneira correta de formar cavaleiros e sobre como Deus concede força e ajuda a eles em suas ações. Livro 2 - Capítulo 13
Eu sou um único Deus com o Pai e o Espírito Santo em uma trindade de pessoas. Nenhum dos três pode ser separado ou dividido dos outros, mas o Pai está em ambos, no Filho e no Espírito, o Filho está em ambos, no Pai e no Espírito e o Espírito está em ambos. A Divindade enviou sua Palavra à Virgem Maria através do anjo Gabriel. Também o mesmo Deus, enviando e sendo enviado por si mesmo, estava com o anjo, estava em Gabriel, e estava com a Virgem antes de Gabriel. Depois que o Arcanjo entregou sua mensagem, a palavra se tornou carne dentro da Virgem. Eu, que falo contigo, sou essa Palavra.
O Pai me enviou através dele mesmo juntamente com o Espírito Santo para o útero da Virgem, embora não de forma que os anjos ficassem sem a visão e a presença de Deus. Eu, o Filho, que estava com o Pai e o Espírito Santo no ventre da Virgem, permaneci o mesmo Deus na visão dos anjos no Céu juntamente com o Pai e o Espírito Santo, governando e sustentando todas as coisas. Entretanto, a natureza humana assumida pelo único Filho ficou no útero de Maria. Eu, que sou um só Deus em minha natureza divina e humana, não desdenho de falar contigo e assim manifesto meu amor e fortaleço tua santa fé.
Embora minha forma humana pareça estar aqui em tua frente e estar falando contigo, entretanto, é mais verdadeiro dizer que tua alma e tua consciência estão comigo e em mim. Nada nos Céus ou na Terra é impossível ou difícil para mim. Sou como um poderoso rei que chega a uma cidade com suas tropas e toma posse do lugar, ocupando-o completamente. Da mesma forma, teus membros se encherão com minha graça e serão fortalecidos. Eu estou dentro e fora de ti. Embora eu possa estar falando contigo, permaneço o mesmo em minha glória. O que poderia ser difícil para mim, que sustento todas as coisas com meu poder e organizo tudo com minha sabedoria, superando a tudo com excelência? Eu, que sou um único Deus junto com o Pai e o Espírito Santo, sem começo ou fim, que assumi a natureza humana pela salvação da humanidade, com minha natureza divina permanecendo intacta, que sofri, ressuscitei e ascendi ao Céu, estou agora verdadeiramente falando contigo.
Eu falei-te anteriormente sobre os cavaleiros que foram antes mais agradáveis a mim, porque foram unidos a mim através do laço da caridade. Eles se comprometeram através de seus juramentos a oferecerem seu corpo pelo meu corpo, seu sangue pelo meu sangue. É por isso que lhes dei meu consentimento, onde me uni a eles em um único laço e uma única companhia. Agora, entretanto, minha queixa é a de que estes cavaleiros, que deveriam pertencer a mim, voltaram-se contra mim. Eu sou seu Criador e Redentor, assim como seu ajudante. Criei um corpo com todos os membros para eles. Criei tudo no mundo para seu uso. Redimi-os com meu sangue. Adquiri uma herança eterna para eles através da minha paixão. Eu os protejo em todo perigo.
Agora, entretanto, eles se afastaram de mim. Eles tem minha paixão por nada, negligenciam minhas palavras que deveriam alegrar e nutrir suas almas. Desprezam-me, preferindo, com todo o coração e a alma, oferecer seus corpos e deixar que sejam feridos em troca de prazer humano, derramar seu sangue para satisfazer sua ambição, felizes em morrer em nome de um discurso mundano, diabólico e vazio. Mas ainda, embora tenham se afastado, minha misericórdia e justiça estão sobre eles. Eu misericordiosamente zelo por eles para que não sejam entregues ao demônio. Em justiça, sou paciente com eles e, se novamente se voltassem para mim, os receberia e alegremente correria para encontrá-los.
Diga àquele homem que quer pôr seus serviços de cavalaria a meu dispor que ele me agradará novamente através da seguinte cerimônia. Qualquer um que quiser ser cavaleiro deve seguir com seu cavalo e armadura até o pátio da Igreja e deixar seu cavalo lá, já que este não foi feito para o orgulho humano mas para ser útil na vida e na defesa, e na luta contra os inimigos de Deus. Então deixa que ele vista seu manto, colocando o fecho em sua testa, da maneira semelhante ao que um diácono faz quando veste sua estola como um sinal de obediência e santa paciência. Da mesma forma, ele pode vestir seu manto e colocar o fecho em sua testa como sinal de seus votos militares e de obediência tomada para a defesa da cruz de Cristo.
Um estandarte de governo secular deve ser carregado à sua frente, lembrando-o que deve obedecer a seu governo na terra em tudo aquilo que não é contra Deus. Uma vez que tenha entrado no pátio da Igreja, os sacerdotes devem sair para encontrá-lo com o estandarte da igreja. Neste, a Paixão e as feridas de Cristo devem estar pintadas como símbolo de que ele é obrigado a defender a Igreja de Deus e concordar com seus prelados. Quando ele entrar na Igreja, o estandarte do governo temporal deve permanecer fora da igreja enquanto o estandarte de Deus deve ir à sua frente para dentro da Igreja, como um sinal de que a autoridade divina precede a autoridade temporal e que uma pessoa deve cuidar mais das questões espirituais e do que das temporais.
Quando a Missa for rezada até o Agnus Dei, a autoridade presidente, isto é, o rei ou outra pessoa, deve dirigir-se ao cavaleiro no altar e dizer: “Queres tornar-te cavaleiro?” Quando o candidato responder “sim”, o outro deve acrescentar as palavras: “Promete a Deus e a mim que defenderás a fé da Santa Igreja e obedecerás a seus líderes nas coisas que pertencem a Deus!”
Quando o candidato responder “sim”, o outro deve colocar uma espada em suas mãos, dizendo: “Veja, deposito uma espada em tuas mãos para que não poupes mesmo a tua vida pela Igreja de Deus, para que possas subjugar os inimigos de Deus e proteger os amigos de Deus”. Então deve entregar a ele o escudo e dizer: “Veja, dou-te um escudo para que possas defender-te dos inimigos de Deus, para que possas oferecer assistência às viúvas e órfãos, de forma que possas aumentar a glória de Deus em todos os sentidos”. Então ele deve colocar sua mão sobre o pescoço do outro, dizendo: “Veja, agora estás sujeito à obediência e à autoridade. Saibas, então, que deves por em pratica aquilo que prometeste através de tua promessa!” Depois disso, o manto e seu fecho, deve ser ajustado nele para lembrá-lo diariamente de seus votos a Deus e que, por sua profissão perante a Igreja, ele comprometeu-se a fazer mais que outros para defender a igreja de Deus.
Uma vez feito tudo isto e o Agnus Dei rezado, o sacerdote que celebra a Missa deve dar-lhe meu corpo para que possa defender a fé da Santa Igreja. Estarei nele e ele em mim. Dar-lhe-ei ajuda e força, e o farei queimar com o fogo do meu amor de forma que não desejará nada a não ser Eu e não temerá nada a não ser a mim, seu Deus. Se acontecer dele estar em campanha quando prestar seus serviços por minha glória e defesa da minha fé, isto ainda o beneficiará, considerando que sua intenção é justa.
Estou em todos os lugares em virtude do meu poder, e todas as pessoas podem agradar-me por uma intenção justa e boa vontade. Eu sou amor, e ninguém pode vir a mim a não ser uma pessoa que tem amor. Então, não ordeno a ninguém que faça isso, pois nesse caso estariam me servindo por medo. Mas aqueles que querem tomar essa forma de serviço de cavalaria podem estar me agradando. Seria adequado para eles, mostrar através da humildade, que eles querem voltar ao verdadeiro exercício da cavalaria, já que através do orgulho, ocorre a deserção da profissão da verdadeira cavalaria.”
EXPLICAÇÃO
Acredita-se que este cavaleiro tenha sido Sir Karl, o filho de Santa Brígida.
Sobre Cristo simbolizado por um ourives e as palavras de Deus pelo ouro; sobre como estas palavras devem ser transmitidas às pessoas com o amor de Deus, uma reta consciência; seus cinco sentidos sob controle; e sobre como os pregadores de Deus devem ser diligentes e não preguiçosos ao vender o ouro, isto é, ao transmitir a palavra de Deus. Livro 2 - Capítulo 14
Sou como um habilidoso ourives que envia seu servo para vender seu ouro por toda a região, dizendo-lhe: “Tu deves fazer três coisas. Primeiro, não deves confiar meu ouro a ninguém exceto àqueles que têm visão calma e clara. Segundo, não o confies a pessoas que não têm consciência. Terceiro, coloque meu ouro à venda por dez talentos pesados duas vezes! Uma pessoa que se recusa a pesar meu ouro duas vezes não o receberá. Deves tomar cuidado com três armas que meu inimigo utiliza contra ti. Primeiro, ele quer fazer-te demorar a expor meu ouro. Segundo, ele deseja misturar metal inferior ao meu ouro para que os que o veem e o testem pensem que meu ouro não passa de barro podre.
Terceiro, ele instrui seus amigos para que te contradigam e clamem constantemente que meu ouro não é bom”. Eu sou como este ourives. Forjei tudo no Céu e na Terra, não com martelos e ferramentas, mas com meu poder e força. Tudo o que existe, existiu e existirá é previsto por mim. Nem mesmo um pequeno verme ou o menor dos grãos pode existir ou continuar a existência sem mim. Nem a menor coisa escapa da minha presciência, por que tudo vem de mim e é previsto por mim. Entre todas as coisas que criei, entretanto, as palavras que saíram de meus lábios são de grande valor, assim como o ouro é mais valioso do que outros metais.
É por isso que meus servos, através dos quais envio meu ouro por todo o mundo, devem fazer três coisas. Primeiro, eles não devem confiar meu ouro a pessoas que não tenham visão calma e clara. Você pode perguntar: “O que significa ter uma visão clara?” Bem, uma pessoa com visão clara é a que possui sabedoria divina junto com divina caridade. Mas como você pode saber isto? É óbvio. A pessoa que possui visão clara e que pode receber meu ouro é a que vive de acordo com a razão, que se afasta da vaidade e curiosidade humanas, que não busca nada tanto como Deus. Mas esta pessoa é cega se possui conhecimento, mas não põe em pratica a caridade divina que conhece. Ela parece ter seus olhos em Deus, mas não os tem, porque seus olhos estão no mundo e voltou suas costas para Deus.
Segundo, meu ouro não deve ser confiado a alguém que não tenha consciência. Quem possui consciência senão a pessoa que controla seus bens temporais e perecíveis com vistas à eternidade, que tem sua alma no Céu e seu corpo na Terra, que reflete diariamente sobre como irá deixar a Terra e responder a Deus sobre suas ações? Meu ouro deve ser confiado a tal pessoa. Terceiro, ele deve colocar meu ouro à venda por dez talentos pesados duas vezes. O que essa balança usada para pesar o ouro simboliza senão a consciência? O que as mãos que pesam o ouro simbolizam senão uma boa vontade e desejo? Quais são os contrapesos a serem usados senão o trabalho espiritual e o corporal?
Uma pessoa que quer comprar e guardar meu ouro, isto é, minhas palavras, deve examinar a si mesma corretamente na balança de sua consciência e considerar como irá pagar por eles com dez talentos cuidadosamente pesados de acordo com minha vontade. O primeiro talento é a visão disciplinada da pessoa. Isto a faz considerar a diferença entre a visão corporal e a espiritual, qual utilidade há na beleza e aparência físicas, quanta excelência há na beleza e glória dos anjos e dos poderes celestes que ultrapassam todas as estrelas do céu em esplendor, e que deleite uma alma possui nos mandamentos de Deus e em sua glória.
Este talento, quero dizer, a visão física e espiritual, que é encontrada nos mandamentos de Deus e na castidade, não são medidas na mesma balança. A visão espiritual conta mais que a corporal e pesa mais, visto que os olhos de uma pessoa devem ser abertos ao que é benéfico para a alma e necessário para o corpo, mas fechados para a tolice e a indecência.
O segundo talento é a boa audição. Uma pessoa deve considerar o preço da linguagem indecente, tola e zombeteira. Certamente, não vale mais do que um sopro de ar. É por isso que uma pessoa deve ouvir louvores e hinos de Deus. Deve ouvir os feitos e dizeres dos meus santos. Deve ouvir o que ele necessita para estimular na virtude sua alma e seu corpo. Este tipo de audição pesa mais na balança do que ouvir indecências. Este bom tipo de audição, quando é pesado na balança e comparado ao outro tipo, irá deslocar a balança muito para baixo, enquanto a outra, a audição vazia, se deslocará para cima, pois não pesará nada.
O terceiro talento é o da língua. Uma pessoa deve pesar a excelência e utilidade de um discurso edificante e bem cuidado, na balança de sua consciência. Deve considerar a nocividade e inutilidade de um discurso vão e negligente. Deve descartar o discurso vão e amar o bom.
O quarto talento é o paladar. Qual o paladar do mundo senão sofrimento? Trabalho duro no começo de uma empreitada, aflição à medida que continua e amargura no fim.
Portanto, uma pessoa deve pesar cuidadosamente o paladar espiritual e o mundano, mas o paladar espiritual pesará mais que o mundano. O paladar espiritual nunca é perdido, nunca se torna monótono, nunca diminui. Este tipo de paladar começa no presente através da contenção da luxúria e através de uma vida de moderação, e dura para sempre no Céu através do gozo de doces delicias de Deus.
O quinto talento é o sentido do tato. Uma pessoa deve pesar quanta preocupação e miséria ele sente por causa do corpo, quantas preocupações do mundo, todos os muitos problemas com seu vizinho. Então ele experimentará miséria em todos os lugares. Faça-o pesar também o quanto é grande a paz de espírito e a mente disciplinada; quanto bem há em não se preocupar com vãs e supérfluas posses. Então ele irá experimentará consolação em todos os lugares. Qualquer um que queira medir bem isso, deve colocar os sentidos espirituais e físicos na balança, e o resultado será que o espiritual supera o corporal. Esse tato espiritual inicia e se desenvolve através da tolerância paciente das contrariedades e através da perseverança nos mandamentos de Deus, e dura para sempre na alegria e no tranquilo repouso. Uma pessoa que atribui mais peso ao descanso físico e aos sentimentos e alegrias mundanos, do que aos da eternidade, não merece tocar meu ouro ou desfrutar minha felicidade.
O sexto talento é o trabalho humano. Uma pessoa deve pesar cuidadosamente em sua consciência, o trabalho espiritual e o material. O primeiro leva ao Céu, o segundo ao mundo; o primeiro a uma vida eterna sem sofrimento, o segundo a uma tremenda dor e sofrimento. Qualquer um que deseja meu ouro deve atribuir mais peso ao trabalho espiritual, que é feito por meu amor e pela minha glória, do que ao trabalho material, já que as coisas espirituais duram, enquanto as coisas materiais passam.
O sétimo talento é o uso ordenado do tempo. Uma pessoa recebe um certo tempo para devotar às questões espirituais sozinho, outro período para as funções corporais, sem as quais a vida é impossível (se são usadas de maneira sensata, são consideradas como uso espiritual do tempo), e outros períodos para atividades fisicamente uteis. Se uma pessoa deve prestar conta de seu tempo e também de suas ações, ela deve, então, dar prioridade ao uso espiritual do tempo antes de voltar-se ao trabalho material, e controlar seu tempo de forma que às coisas espirituais seja dada maior prioridade do que às coisas temporais, de forma que não seja permitido que o tempo passe sem analise e correto equilíbrio requerido pela justiça.
O oitavo talento é a justa administração dos bens temporais dados a uma pessoa, significando que uma pessoa rica, no que permite seus recursos, deve doar aos pobres com caridade divina. Mas você pode perguntar: “O que deve dar uma pessoa pobre se nada possui?” Ele deve ter a reta intenção e pensar o seguinte: “Se tivesse algo, eu alegremente o daria com generosidade”. Tal intenção é contada para ele como uma ação. Se a intenção do homem pobre é tal que ele gostaria de ter posses temporais como os outros, mas pretenderia doar uma pequena quantia e meras ninharias aos pobres, esta intenção é considerada como uma pequena ação. Então, uma pessoa rica com muitas posses deve praticar a caridade. Uma pessoa necessitada deve ter a intenção de dar e isso lhe renderá mérito. Aquele que dá mais peso ao temporal do que ao espiritual, que dá a mim um xelim, ao mundo cem e a si mesmo mil não usa um padrão de pesagem justo. Uma pessoa que usa um padrão como este não merece ter meu ouro. Eu, o doador de todas as coisas, e que também posso tirá-las, mereço a parte mais valiosa.
Os bens temporais foram criados para o uso e necessidade humana, não para o supérfluo. O nono talento é o exame cuidadoso dos tempos idos e passados. Uma pessoa deve examinar suas ações, que tipo de ações foram, o numero delas, como ele as corrigiu e com que mérito. Ele deve também ponderar se suas boas ações foram em menor número do que as más. Se ele achar que suas más ações são mais numerosas do que as boas, então ele deve ter um perfeito proposito de correção e estar verdadeiramente arrependido de seus maus atos. Esta intenção, se for verdadeira e firme, pesará mais na visão de Deus, do que todos os seus pecados.
O décimo talento é a consideração e o planejamento do tempo futuro. Se uma pessoa tem a intenção de não querer amar nada além das coisas de Deus, de não desejar nada além do que ele sabe que agrada a Deus, de com boa vontade e pacientemente aceitar as dificuldades, mesmo as penas do inferno, para dar a Deus alguma consolação e fazer a Sua vontade, então este talento sobrepuja todo o resto. Através deste talento todos os perigos são facilmente evitados. Aquele que pagar estes dez talentos terá meu ouro.
Entretanto, como eu disse, o inimigo quer impedir que as pessoas entreguem meu ouro de três formas. Primeiro, ele quer fazê-los lentos e preguiçosos. Existem ambos, a preguiça física e a espiritual. A de tipo físico é quando o corpo se cansa de trabalhar, de levantar-se e assim por diante. A preguiça espiritual é quando uma pessoa de mente espiritualizada, conhecendo do doce deleite e graça do meu Espírito, prefere descansar neste gozo em vez de sair e ajudar outros a compartilhar isso com ele. Pedro e Paulo não experimentaram o transbordante gozo do meu Espírito? Se fosse minha vontade, eles teriam repousado escondidos no fundo da terra com o gozo interior que possuíam, em vez de saírem para o mundo.