Capítulo I: Pomar Dourado



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Capítulo V: Priorinna

Crito e Gwynn continuavam deitados no chão, ainda incrédulos por terem sobrevivido à avalanche. Eles estavam um passo mais próximos de alcançarem o destino da viagem, precisando apenas passar pela região de Bellmagne.

A comarca de Bellmagne era um pequeno território de transição entre Schneelaand e Naville. Dividida entre grandes clareiras e enormes bosques árvores de folhas alaranjadas, ficou conhecida como a região do outono eterno. Não tão populosa em comparação com as regiões Áurea e Naville, mas existiam algumas vilas de extrema importância para o império, como a vila de Willowbranch, que se aproveitava das clareiras vazias para a criação de besouros gigantes e fornecia boa parte da carne de inseto à capital imperial, mas o verdadeiro objetivo de Crito é Gwynn é chegar até Priorinna, cidade que ficava exatamente na fronteira de Bellmagne.

Eles se levantaram, e começaram a caminhar no meio da vegetação rasteira com destino à floresta alaranjada. A caminhada era longa, e como não estava tão frio, eles resolveram tirar as túnicas de lã. Eles caminharam e caminharam pela planície vazia, até darem de cara com uma manada de besouros gigantes. A raposa então pediu para que Crito se abaixasse.

— Fica aí, eu tive uma ideia. — Disse a raposa enquanto se esgueirava pelas gramíneas.

Gwynn chegou por trás de um dos besouros em suas costas. O inseto tentou se chacoalhar para afastar a raposa, mas ela se segurou em seu chifre e conseguiu conduzi-lo. Os demais besouros se assustaram e começaram a correr, mas Crito conseguiu correr e montar em um deles antes que todos eles escapassem.

Com as montarias, Crito e Gwynn deram um leve chute na carapaça dos besouros, o que fez os insetos começarem a correr. A sensação de velocidade era incrível, e a raposa parecia estar aproveitando a montaria.

— Onde você aprendeu a fazer isso?! — Gritou o hamster.

— Com meu pai, a gente adorava montar os besouros na época de migração deles! — Responde a raposa — Crito, que tal uma corrida até Priorinna?

— Corrida?! Mas eu mal sei guiar essa coisa!

— Se perder me deve um capuz novo, ouvi dizer que Priorinna tem uns modelos bem caros!

A raposa então acelerou seu besouro e partiu em disparada sem esperar resposta, enquanto o hamster apenas bufou e também acelerou. Crito consegue alcançar o besouro de Gwynn e agora os dois correm lado a lado, ao perceber isso, a raposa se apoia no chifre do seu besouro gigante, se inclina em direção ao chão e faz uma bola de lama, que foi jogada nos olhos do besouro de Crito, que fica alguns segundos desestabilizado e deixa Gwynn passar na frente.

— Ei! Isso é trapaça!!

— Eu nunca falei que seria justo! — Respondeu a raposa enquanto fazia uma careta.

Agora Gwynn está em primeiro lugar com alguns metros de vantagem em relação à Crito, e eles se aproximavam da segunda etapa da corrida, a floresta alaranjada. A raposa entrou primeiro na floresta, mas ao olhar para trás, percebeu no último segundo que estava prestes a colidir com uma árvore, e o desvio abrupto deixou o besouro do hamster ganhar velocidade e ultrapassar a raposa. Essa era a etapa mais perigosa da corrida, com diversos obstáculos como pedras e árvores, e eles precisariam dobrar a atenção se não quisessem ser derrubados de seus besouros.

Crito desviava das árvores e dos galhos com habilidade, mas uma sequência de faias fez com que ele precisasse dar a volta, e permitiu Gwynn ultrapassar Crito novamente. As árvores e os arbustos ficaram para trás, eles agora corriam em uma clareira, onde já era possível ver o muro de Priorinna, mas havia um sério problema, para que eles pudessem chegar até a cidade era preciso atravessar um rio. Eles estavam lado a lado correndo pela clareira e a margem do rio ficava cada vez mais próxima. Eles aceleraram com tudo pensando que os besouros iriam conseguir pular o rio, mas ao chegar na margem os insetos frearam e a inércia fez o resto, jogando o hamster e a raposa para o outro lado do rio.

Depois que eles caíram do outro lado, eles se olharam por um tempo e começaram a correr em direção ao portão do vilarejo, a corrida ainda estava valendo. Quando estavam quase chegando, eles deram um pulo no sentido do portão e caíram ao mesmo tempo para dentro da cidade enquanto um guarda toupeira observava toda a cena confuso.

— Parece... que... temos um empate — Disse a raposa, ofegante.

— Eu... concordo.

O guarda simplesmente deu de ombros e saiu enquanto os dois se levantavam, e agora eles tinham a cidade inteira para explorar antes de seguir a estrada real para a capital.

Priorinna era uma rica cidade, que cresceu graças à indústria têxtil e ao comércio de roupas e acessórios de luxo. Toda essa riqueza era refletida pela organização e limpeza das ruas, e as casas todas construídas com paredes de tijolos pintados e detalhes em madeira, com telhados pontiagudos construídos com telhas amarelas, o que era um padrão na cidade, que também era conhecida como cidade do sol. No centro de Priorinna havia uma enorme construção, feita toda em arquitetura gótica, com enormes torres e uma torre central com um grande relógio que batia pontualmente às 12 horas. Aquela era a Universidade de Priorinna, de longe a maior construção da cidade, que era responsável por formar os melhores estilistas, designers, arquitetos e médicos de toda a região.

Todo aquele esplendor encantou o hamster e a raposa, que nunca haviam visto uma cidade tão grande como essa, e o encanto era tão grande que eles até se esqueceram do objetivo de toda aquela viagem. Eles visitaram todos os pontos turísticos que encontravam pela frente, a feira gastronômica, o centro comercial, a universidade de Priorinna e a praça principal, onde um grupo de bardos pavões fazia um show no coreto, tocando seus tambores e alaúdes enquanto narravam as aventuras épicas dos fundadores dos reinos.

— Cara, essa cidade é incrível! Tem tanta coisa pra fazer aqui. — Disse a raposa empolgada, enquanto colocava uma túnica de seda amarela.

— Realmente, eu nunca tinha visto um lugar com tanta coisa pra fazer em tod... Espera! Onde você conseguiu essa túnica?!

— Ah, a túnica? E... eu...comprei! — Respondeu a raposa com um sorriso exagerado no rosto.

— Que seja, essa cidade é maravilhosa, mas precisamos focar no nosso objetivo.

— Verdade, exploramos tanto que eu nem vi o tempo passar. Mas antes, uma coisa pra você.

A raposa tirou da sua bolsa uma bainha preta com detalhes em amarelo e a entregou para o hamster.

— Ei ei ei, não me vai dizer que você comprou essa bainha também.

— É melhor irmos andando, precisamos estar na estrada até o amanhecer.

Os dois foram caminhando pelo distrito comercial até o portão real, de onde saía a estrada que ia direto para a capital, mas passando por uma loja de joias, o hamster sentiu um mau pressentimento. Ele sacou sua espada e esperou, até que de repente um grito pôde ser ouvido.

— Socorro!!

Crito pediu para que Gwynn ficasse em silêncio e o acompanhasse até a janela da joalheria, e ao olhar por ela confirmou uma de suas suspeitas. Três lobos mascarados e armados com sabres estavam assaltando o local. Dois lobos rendiam os clientes enquanto o outro forçava uma garça, que provavelmente era o dono do local a colocar o máximo de joias que conseguia dentro de uma sacola de pano. Para se infiltrarem na loja, eles deram a volta pelo prédio, subiram nele com uma escada de madeira e entraram por uma abertura no teto. Agora eles precisavam realizar um ataque coordenado, o hamster saltou pela abertura e caiu em cima do lobo com a sacola de pano ao mesmo tempo que a raposa caía com um forte golpe de bastão, nocauteando o outro lobo. O último lobo, desesperado, agarrou uma fuinha e colocou seu sabre sobre o pescoço do animal, fazendo um refém.

— Eu exijo que me deixem ir, ou eu corto o pescoço dela!!!

O lobo foi se movendo lentamente no sentido da porta da joalheria e um clima tenso subiu no ar, qualquer movimento em falso e seria o fim da vida daquela fuinha. Crito e Gwynn não conseguiam pensar no que fazer e talvez não havia nada que eles realmente pudessem fazer naquele momento, até que todos da joalheria começaram a sentir um leve tremor no chão. Esse tremor ia se intensificando a cada segundo, e do nada uma grande toupeira sai do piso da joalheria com um salto, e o susto fez o lobo largar o refém.

A toupeira então puxou do chão quebrado um enorme martelo de aço e partiu para cima do lobo, que tentou aparar o golpe com seu sabre, mas a martelada foi forte o suficiente para dobrar o sabre como se ele fosse feito de papel, e depois de fragilizar a postura do lobo a toupeira deu uma última marretada que fez o lobo voar longe até bater na parede de tijolos e cair no chão desacordado no chão.

Depois de um tempo, os guardas de Priorinna chegaram e levaram os lobos para julgamento. Um dos guardas conversava com a garça e chamou a toupeira para entregar um saco de pano, que parecia ser uma bolsa de moedas.

— Ei, vocês dois, venham aqui. — Chamou a garça.

O hamster e a raposa se aproximaram do balcão, e a garça pegou dois sacos de moedas e os entregou. Os lobos eram bandidos procurados na região, com uma bela recompensa para quem os capturassem.

— Essa recompensa seria toda minha se vocês non tivessem se intrometido! — Disse a toupeira, com um sotaque que parecia ser dos reinos do norte. — Eu tive todo o trabalho de rastrear esses lobos, seguir a trilha deles e tentar impedir o crime para ter que dividir a recompensa com um hamster e um raposa!

— A gente só queria ajudar. — Respondeu a raposa.

— Argh! Não importa mais. A única coisa que importa agora é que eu, Regginald Delafose Subercaseaux, vou ser o melhor caçador de recompensas de todos os reinos.

A toupeira apenas cavou um buraco na terra e saiu, deixando todos na joalheria sem reação.

— Obrigado pela ajuda de vocês, não sei o que eu faria se as minhas preciosas joias caíssem nas garras daqueles lobos.

— Foi um prazer ajudar. — Respondeu Crito — Aquela toupeira é sempre assim?

— O Regginald pode ser meio egocêntrico, mas ele faz um favor enorme pra a sociedade correndo atrás dessas recompensas. — Disse um dos guardas.

Os dois se despediram da garça e a saíram da joalheria, mas para a surpresa deles o sol já havia desaparecido e a luz da lua batia nas telhas amarelas das casas. Era muito perigoso viajar durante a noite e eles cansados depois de tudo o que aconteceu durante o dia decidiram gastar parte do dinheiro da recompensa para passar a noite em um albergue. Enquanto caminhavam, não podiam deixar de observar como a vida noturna da cidade era vibrante, com muita música, dança e bebida até altas horas da noite.

— Eu nunca paro de me surpreender com tudo que dá pra fazer aqui em Priorinna, e agora que a gente tem dinheiro pra gastar dá pra aproveitar tudo que ela tem pra oferecer. — Diz a raposa, empolgada.

— Nós podemos aproveitar tudo que ela tem pra oferecer, ou podemos pagar um lugar pra dormir e todas aquelas coisas que você roubou!

— Tá falando sério!?

Crito apenas cruza os braços e olha para a raposa com uma cara séria.

— Ownn. — Exclama a raposa decepcionada — Porque é que você tem que ser sempre tão chato?

Eles seguem caminho até uma hospedaria no centro da cidade, e assim como tudo naquela cidade a hospedaria era enorme e tão bonita que deixou os dois boquiabertos. Chegando na recepção pediram dois quartos e tiveram uma desagradável surpresa, o preço dos quartos era pouco mais da metade da recompensa, mas eles não tinham escolha. Eles se separaram e cada um seguiu para os seus respectivos quartos, e quando o hamster entrou no quarto, se deparou com o melhor e mais organizado quarto que ele viu em toda a sua vida, jogou suas coisas em uma mesa de madeira importada de outro reino e se jogou na cama, que era grande o suficiente para suportar 10 hamsters.

Ele se deitou para dormir, mas quando abriu os olhos, e estava em uma espécie de salão de festas, onde todos os animais dançavam uma valsa, quando os animais começaram a derreter e se transformaram na conhecida fumaça preta. A fumaça se uniu e formou uma grande mão que agarrou o hamster e o jogou com força para a janela do salão, fazendo com que Crito caísse em um buraco que parecia interminável. A queda duraria alguns segundos, e quando o chão quase tocava o corpo do hamster, ele abriu os olhos novamente e acordou com o sol batendo forte na sua cara. Era mais um daqueles pesadelos esquisitos, o que significava a figura dos corvos? O que significava aquela fumaça? Quanto mais ele pensava sobre isso, mais confuso ele ficava, então parecia melhor que ele apenas ignorasse tudo isso.




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