Capítulo I: Pomar Dourado


Capítulo III: A vila das raposas



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Capítulo III: A vila das raposas

O sol nasceu, finalmente chegou o grande dia que Crito esperava desde que ainda era pequeno... ou melhor, filhote, o hamster deu um salto da cama e foi direto arrumar as coisas para a viagem. Com tudo pronto, colocou sua velha mochila de pano nas costas e saiu em direção ao portão do vilarejo com um olhar de determinação. Enquanto andava pelas tristes ruas de Pomar Dourado, a única coisa em que ele pensava era em voltar com condições suficientes para ajudar o vilarejo a retornar aos seus dias de glória.

Chegando no portão principal, Ázaro o esperava, escondendo uma coisa em suas asas. O corvo se aproxima do hamster, empunhando uma grande espada de metal com inscrições em uma língua desconhecida em sua lâmina. Os raios de sol refletiam intensamente na lâmina e faziam brilhar os olhos de Crito.

— Você não pode sair por aí com uma espada de treinamento! Essa é uma velha espada minha, uma relíquia do clã dos corvos, e agora ela é sua. — Disse o corvo oferecendo a arma ao hamster.

— Pra mim? Eu não posso aceitar.

Cuá! Considere essa espada como a recompensa por terminar seu treinamento! Você já é responsável o suficiente para empunhar uma arma como essa. — Respondeu Ázaro empurrando a espada para as patas de Crito. — E lembre-se do nome dessa espada.

— O nome da espada? — Perguntou o hamster confuso.

Cuá! Um bom espadachim deve conhecer a sua arma. Principalmente se tratando de uma Eclipse, um dos mais belos tesouros forjados pelo clã dos corvos.

As espadas Eclipse eram usadas pelos mais habilidosos guerreiros de elite do clã dos corvos. Com a quase extinção do clã após a batalha do poleiro, esse tipo de espada se tornou extremamente rara e muito cobiçada no mercado negro.

— Faça bom uso dessa espada, não é qualquer um que põe as patas numa arma como essa.

— Obrigado velho, eu vou me lembrar disso.

Os dois se olharam por um tempo, até que o hamster se despediu e saiu caminhando pela estrada de terra, e o corvo o observou enquanto se afastava cada vez mais, até que Crito desapareceu no horizonte. Ázaro virou as costas e voltou para casa, com um sorriso enorme no rosto. A jornada que o hamster enfrentaria seria longa, passando por três grandes regiões até chegar na capital do império, a cidade de Gran Naville. Crito sabia das dificuldades que poderia enfrentar, mas continuava determinado a realizar os seus sonhos.

Crito caminhou a tarde inteira pelos bosques amarelados até chegar na fronteira da região Áurea sem muitas dificuldades. O dourado das arvores se desbotou até se tornar um verde brilhante, indicando que ele estava cada vez mais perto de Longvillage, outro pequeno vilarejo. Longvillage ainda estava longe e o sol já ia se pôr, o que motivou o hamster a montar um acampamento perto da estrada. Depois de achar uma pequena caverna, ele colocou sua mochila no chão e foi coletar diversas pedras menores e galhos secos para fazer uma fogueira. Utilizou a lâmina de sua nova espada para ascender a fogueira e logo se deitou no chão e dormiu.

Pela manhã, o hamster foi acordado com o barulho de gritos e uivados intensos, despertando sua curiosidade. Pegou sua espada e seguiu em direção ao barulho. Em meio a densa vegetação, Crito encontrou o que parecia ser um acampamento de bandidos dominados por lobos, uma das espécies de animais mais temidas da região. Conhecidos por seu comportamento feroz e quase irracional, boa parte dos lobos realizam atividades como roubo de cargas, contrabando e assassinatos, eles se tornaram um grupo isolado com pouquíssimos indivíduos residindo nas cidades de animais civilizados.

O acampamento estava repleto de gaiolas que prendiam diversas raposas, enquanto os lobos festejavam e uivavam em torno da fogueira. Crito usou a vantagem de ser pequeno e conseguiu se esgueirar pelos caixotes de suprimentos dos caninos, quando ao chegar perto de uma das gaiolas foi chamado por uma voz feminina.

— Ei, aqui! — Sussurrou uma das raposas — Você precisa nos tirar daqui! Esses lobos invadiram a nossa cidade e nos trouxeram até aqui.

Crito tentou forçar a fechadura da gaiola, mas não teve sucesso.

— Desse jeito você nunca vai conseguir. Tenho um plano, mas preciso recuperar minha bolsa na cabana principal. — Disse a raposa.

Crito então foi se esgueirando entre as caixas até a cabana principal, mas sua entrada estava sendo vigiada por um lobo. Ele precisava arrumar alguma forma de tirar o vigia do caminho, e para isso pegou uma pedra que estava no chão e atirou em um escudo que estava distante, produzindo barulho o suficiente para fazer com que o vigia fosse investigar e deixasse a entrada livre para a passagem do hamster. A cabana estava lotada de tesouros, provavelmente saqueados, entre eles uma grande bolsa de pano com o símbolo de uma raposa bordado, essa certamente era a bolsa certa. O hamster pega a bolsa com a boca e sai da cabana antes que o lobo volte ao seu posto e segue em direção a gaiola.

Ao entregar a bolsa à raposa, ela rapidamente começa a abre e começa a mexer nos objetos que estavam guardados e retira diversas gazuas, que ela utilizaria para abrir o cadeado da gaiola com certa facilidade. Em seguida a raposa conseguiu se esgueirar por entre as feras e abriu todos os cadeados das demais gaiolas para que os animais presos fugissem, tudo isso sem que nenhum dos lobos percebessem a fuga.

Crito ia guiando os fugitivos para a saída do acampamento, até que uma raposa fugitiva derrubou um suporte para espadas, o que chamou a atenção dos lobos ao redor da fogueira. Os demais fugitivos correram desesperados enquanto os lobos avançavam contra Crito e a raposa, que prontamente sacaram suas armas. Crito empunhou seu eclipse enquanto a raposa retirou um bastão de madeira da mochila, o que fez com que os lobos começassem a rir descontroladamente.

— Você acha mesmo que vai conseguir nos ferir com esse graveto raposinha? — Disse um dos lobos.

Toda essa zombaria deixou a raposa furiosa. Ela reuniu toda a sua raiva e girou o bastão nas pernas dos lobos, fazendo com que eles perdessem o equilíbrio e caíssem. Logo depois, enquanto os lobos avançavam contra ela, a raposa desviou de todos os golpes e com um giro do bastão conseguiu arrancar as afiadas espadas de todas as feras. Enquanto isso acontecia, o hamster duelava contra um grupo de três lobos, que atacavam sem parar. Diante dessa situação o hamster se aproveitou de uma brecha e desferiu um golpe veloz em cada um dos três lobos, deixando-os incapazes de lutarem.

Os caninos estavam sendo vencidos um a um pela dupla, até que o lobo alfa com sua poderosa espada presa entrou em cena. Todos os outros lobos se afastavam enquanto o lobo chefe ia para cima da raposa, que tentou dar um golpe certeiro na cabeça, mas que foi facilmente aparado pelo alfa. O lobo então pegou a raposa pelo pescoço e a jogou agressivamente contra uma árvore, se virando para o hamster logo depois. Os dois se olharam fixamente até que o lobo deu um poderoso uivo e partiu para cima do hamster, que rapidamente tentou aparar os golpes com sua Eclipse. O lobo atacava e atacava sem parar enquanto Crito tentava resistir às espadadas da fera. O hamster não aguentaria muito mais tempo, até que a raposa deu um golpe certeiro nas costas do lobo o que possibilitou uma abertura para que os dois começassem a distribuir golpes na fera, que estava quase caída quando a raposa deu um ultimo chute que derrubou o lobo de vez.

Os lobos estavam se levantando e se preparavam para uma nova investida, quando uma multidão de raposas surgiu para defender o hamster. As raposas pegaram todas as armas que estavam ao alcance de suas patas, e os lobos já debilitados decidiram bater em retirada sobre as ordens do lobo alfa.

— Vocês iram se arrepender de terem se metido com Ditgurat!!! — Gritou o lobo alfa enquanto corria com o resto da matilha.

Quando os lobos foram expulsos do acampamento, todas as raposas começaram a gritar e comemorar jogando suas espadas para cima, eles estavam finalmente livres das presas dos lobos.

— Viva! Viva o hamster! Viva Gwynn! — Gritavam as raposas.

A raposa que libertou os prisioneiros colocou o bastão nas costas, vestiu um capuz de pano que estava em sua bolsa e se aproximou de Crito.

— Ei hamster, obrigada pela ajuda! Não teríamos conseguido sem você. Ah, eu sou Gwyndolynn, mas pode me chamam de Gwynn.

— E eu sou Crito, não há de que. A propósito, quem eram aqueles lobos e o que eles queriam? — Pergunta o hamster.

— Aqueles idiotas são a gangue de Ditgurat. Eles viajam por toda a região aterrorizando e roubando os animais que encontram pela frente. Os desgraçados saquearam todo o nosso vilarejo, mas graças a sua ajuda eles não vão mais causar problemas por aqui tão cedo. — Respondeu Gwynn.

— Espero que não voltem mesmo.

— Então, Crito, para onde você vai agora?

— Estou indo para Gran Naville, preciso seguir estrada até um vilarejo chamado Longvillage.

— Longvillage é o nosso vilarejo, se quiser podemos encontrar um lugar onde você possa descansar essa noite. Depois do que fez por nós você será sempre bem-vindo hamster.

— Depois dessa confusão toda eu preciso descansar, acho que eu vou ter que aceitar a oferta.

O hamster então voltou para a caverna para buscar suas coisas e depois seguiu caminhando junto com as raposas para chegar em Longvillage, vilarejo construído as margens do grande rio Longvill, batizado em homenagem à raposa que descobriu o local. As casas eram construídas com hastes de madeira com espaços preenchidos por tijolos e tinham grandes telhados curvados e suas ruas eram largas e pavimentadas com grandes blocos vermelhos e lindos jardins poderiam ser vistos na frente das casas, características que tornavam o vilarejo um lugar muito aconchegante. Era uma vila que tinha sua economia baseada na pesca e na extração de madeira, que graças a abundância de árvores nas redondezas permitiu com que a economia da região crescesse, riqueza que podia ser vista pela arquitetura requintada com detalhes em madeira.

Depois de uma longa caminhada, o grupo chegou ao vilarejo no meio da tarde, e foram recebidos com festa pelas raposas que resistiram aos lobos, com comemorações tinham muita música e cerveja, coisas típicas das festas de raposas. Crito nunca foi muito fã de festas, então apenas cumprimentou algumas raposas e foi direto para um albergue. O hamster entrou no quarto, jogou suas coisas em uma mesa de madeira e deitou na cama para dormir.

No dia seguinte, Crito saltou da cama, arrumou suas coisas o mais rápido que conseguiu e saiu do albergue em direção à estrada para seguir com a sua viagem, o vilarejo era um lugar encantador, mas o hamster não podia ficar parado. Enquanto andava pelas ruas, resolveu comprar um mapa da região em uma feira no centro da vila e sentou-se em um banco para observa-lo e traçar uma rota melhor para a cidade imperial. O hamster havia deixado a sua mochila no banco, porém quando se levantou para seguir viagem ela já não estava mais lá. Desesperado, ele olhou e olhou em volta até bater os olhos em uma pequena figura encapuzada que seguia com as suas coisas em direção a saída do vilarejo.

Ele a perseguiu até que a figura misteriosa se escorou em uma arvore, e uma grande cauda branca saiu do manto. O rosto encapuzado se virou para o hamster, e por debaixo do capuz estava Gwynn, que rapidamente foi devolver as coisas para o hamster.

— Me desculpe começar a conversa desse jeito, mas eu precisava falar com você. — Disse a raposa — Depois que fiquei sabendo que você iria para a capital, soube que essa seria a minha oportunidade pra sair daqui. Quero que me deixe ir junto com você, afinal, a viagem fica bem mais segura em grupo.

— E por que uma raposa iria querer sair dessa cidade que é quase um paraíso de raposas? Porque sair daqui para ir para a capital se arriscando em uma viagem longa e perigosa?

— Essa cidade é ótima e me acolheu bem mesmo eu não sendo igual as outras raposas, mas tem algo que eu preciso descobrir. Meus pais foram para a cidade imperial por causa da grande guerra e nunca voltaram, eu preciso encontra-los.

Gwynn não era uma raposa típica da região. Ela era menor que as outras raposas, tinha orelhas maiores e sua pelagem era um laranja bem mais claro que o laranja vibrante dos outros. Ela veio junto com seus pais para Longvillage quando era bem pequena, provavelmente vinda de uma região desértica, achou nesse vilarejo a sua casa ideal. Mas quando a grande guerra estourou, algumas raposas foram convocadas pelo conselho dos Corgis para comparecerem na cidade imperial, por serem conhecidas pela inteligência e engenhosidade. Entre as raposas convocadas estavam os pais de Gwynn, que saíram e nunca mais retornaram.

— Parece que nós dois temos assuntos a resolver na cidade imperial, e você provou ser muito corajosa na luta contra os lobos, além das suas habilidades de combate serem incríveis. Você será de grande ajuda nessa jornada. — Respondeu o hamster.

— Obrigado, vai ser uma honra viajar ao seu lado. Só preciso de um tempo pra me despedir de Longvillage e de todas as raposas que acolheram a minha família.

Depois de uma última caminhada pelo vilarejo, Gwyndolynn se despediu daqueles que a acolheram, e se reuniu novamente com Crito, que reuniu diversos suprimentos para a viagem na feira da cidade. Os dois então saíram dos limites de Longvillage e começaram a andar para as montanhas que marcavam o início da próxima região que eles precisariam atravessar, até que o hamster parou.

— Ah, e tenta não pegar mais as minhas coisas sem permissão.

— Tudo bem! — Disse a raposa com um sorriso no rosto, enquanto olhava o mapa.

— Espera... esse não é o mapa que estava guardado na minha mochila?!

— Encontrei no chão, o vento deve ter derrubado da sua mochila enquanto você andava — Respondeu a raposa enquanto segurava a risada.

O hamster, contrariado apenas olhou pra frente e continuou a andar enquanto a raposa mordia uma maçã, que de acordo com ela também foi trazida pelo vento apesar de não existir nenhuma macieira naquela estrada num raio de 20 quilômetros.


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